quinta-feira, 31 de março de 2011

Amor incondicional

Maria,


Gostaria de compartilhar uma expressão de solidariedade infinita que tive a sorte de viver e presenciar esta semana.
Entre meus alunos de sábado e quinta, tem uma menina de 12 anos, chamada Jéssica, que eu não sabia, até este sábado, cuida de três irmãos menores que ela e mora com o pai  eu m irmão mais velho. A mãe deixou o lar a dois anos. Bem, ela chamou minha atenção pela pintura e dedicação, assim como atenção, e achei que era tímida, pela cabeça e os olhos baixos, pois o pescoço dela está meio encurvado para baixo, pois fiquei sabendo, junto com esta história -, tinha duas aulas que ela não ia, e achei estrando. O pescoço sofreu uma lesão a um ano,  e então colocou um colar e ficou muito mais tempo que o necessário, sem repouso, cuidados, enfim ficou lesionada. As dores ficaram fortes, e ela nunca reclamou, um sorriso e a palavra obrigada são o que mais chamam a atenção em seu comportamento delicado e silencioso. Bemm.. este sabado junto com a Lú que está comigo neste dia e também participa, soubemos e fomos para o Hospital infantil visitá-la, já que ela ficou internada e o pai não ficou com ela, falta de condições mesmo,  como todos os amigos souberam no sábado ficamos em prece e dedicando visualização para ela. O movimento e a solidariedade entre áquelas crianças foi marcante para mim. Chegando, a tarde no Hospital, soube que ela tivera alta pela manhã, por coincidência e tinha ido embora. Fomos visitá-la em casa e para saber o endereço fui na casa de um dos meus alunos e quando cheguei quatro deles já haviam, por conta própria recolhido alimentos, suas roupas e seu bem mais precioso, amor e doação, desapego. Fomos lá e vi, a pobresa maior que presenciei até hoje, para surpresa o quarto da Jéssica é limpo e organizado, como ela quem limpa os irmão menores estavam todos muito descuidados, bom.. encontrei-a com áquele sorriso e o obrigado nos labios. A Lú e o Rafa ficaram entre chocados e felizes por saberem que muita alegria existe  e solidariedade também, entre tanta dificuldade, para crianças tão jovens. Chorei por dentro, olhando a alegria entre eles em compartilhar, ajudar e trocar. Exemplos de amor e sabedoria, de almas que se reencontram para aprender. Sou uma trajédia com fotos, mas gostaria de ter naquele momento registrado as expressões. O pai não tem dinheiro para quase nada. Não se sabe a grabvidade do problema, pois le está em consultas lã no Infantil e depende de ajuda para levá-la também. todos são educados naquele ambiente, em meio a dificulade existente desde sempre para eles. Precisam de ajuda e apoio.Neste sabado estaremos todos aqui em casa e eles preparam uma linda surpresa para ela, que pela primeira vez irá ao cinema. Estes tempos mostram muitas nuances e oportunidades de aprendermos vivenciando muito pelo coração. beijos e mais do que nunca em prece
.
PS: sem revisão de textos, saindo direto do coração!



De: Mª Helena
Data: 31 de março de 2011 23:21
Assunto: Japão, por Monja Coen
Para:


Enviado por Conceição Martin
Palavras de uma monja budista sobre os acontecimentos no Japão, sobre o comportamento do povo japonês diante da tragédia- algo que muito temos à aprender.  Abraços,  



JAPÃO
 Quando voltei ao Brasil, depois de residir doze anos no Japão, me incumbi da difícil missão de transmitir o que mais me impressionou do povo Japonês: kokoro.
 Kokoro  ou Shin significa coração-mente-essência.
Como educar pessoas a ter sensibilidade suficiente para sair de si mesmas, de suas necessidades pessoais e se colocar à serviço e disposição do grupo, das outras pessoas, da natureza ilimitada?
 Outra palavra é gaman: aguentar, suportar.  Educação para ser capaz  de suportar dificuldades e superá-las.
 Assim, os eventos de 11 de março, no Nordeste japonês, surpreenderam o mundo  de duas maneiras.
A primeira pela violência do tsunami e dos vários terremotos, bem como dos perigos de radiação das usinas nucleares de Fukushima.
A segunda pela disciplina, ordem, dignidade, paciência, honra e respeito de todas as vítimas.
Filas de pessoas passando baldes cheios e vazios, de uma piscina para os banheiros.
Nos abrigos, a surpresa das repórteres norte americanas: ninguém queria tirar vantagem sobre ninguém.  Compartilhavam cobertas, alimentos, dores, saudades, preocupações, massagens. Cada qual se mantinha em sua área.  As crianças não faziam algazarra, não corriam e gritavam, mas se mantinham no espaço que a família havia reservado.
 Não furaram as  filas para assistência médica – quantas pessoas necessitando de remédios perdidos-
mas esperaram sua vez também para receber água, usar o telefone, receber atenção médica,  alimentos, roupas e escalda pés singelos, com pouquíssima água. 
 Compartilharam também do resfriado, da falta de água para higiene pessoal e coletiva, da fome, da tristeza, da dor, das perdas de verduras, leite, da morte.
 Nos supermercados lotados e esvaziados de alimento, não houve saques.  Houve a resignação da tragédia e o agradecimento pelo pouco que recebiam.  Ensinamento de Buda, hoje enraizado na cultura e chamado de kansha no kokoro: coração de gratidão.
 Sumimasen é outra palavra chave.  Desculpe, sinto muito, com licença. Por vezes, me parecia que as pessoas pediam desculpas por viver.  Desculpe por causar preocupação, desculpe por incomodar, desculpe por precisar falar com você, ou tocar à sua porta.  Desculpe pela minha dor, pelo minhas lágrimas, pela minha passagem, pela preocupação que estamos causando ao mundo.  Sumimasem.
 Quando temos humildade e respeito pensamos nos outros, nos seus sentimentos, necessidades. Quando cuidamos da vida como um todo, somos cuidadas e respeitadas.
O inverso não é verdadeiro: se pensar primeiro em mim e só cuidar de mim, perderei.  Cada um de nós, cada uma de nós é o todo manifesto.
 Acompanhando as transmissões na TV e na Internet pude pressentir a atenção e cuidado com quem estaria assistindo: mostrar a realidade, sem ofender, sem estarrecer, sem causar pânico.  As vítimas encontradas, vivas ou mortas eram gentilmente cobertas pelos grupos de  resgate e delicadamente transportadas – quer para as tendas do exército, que serviam de hospital, quer para as ambulâncias, helicópteros, barcos, que os levariam a hospitais.
  Análise da situação por especialistas, informações incessantes a toda população pelos oficiais do governo e a noção bem estabelecida de que “somos um só povo e um só país”.
 Telefonei várias vezes aos templos por onde passei e recebi telefonemas.  Diziam-me do exagero das notícias internacionais, da confiança nas soluções que seriam encontradas e todos me pediram que não cancelasse nossa viagem em Julho próximo.
 Aprendemos com essa tragédia  o que Buda ensinou há dois mil e quinhentos anos: a vida é transitória,  nada é seguro neste mundo,  tudo pode ser destruído em um instante e reconstruído novamente.
 Reafirmando a Lei da Causalidade podemos perceber como tudo  está interligado e que nós humanos não somos e jamais seremos capazes de salvar a Terra.  O planeta tem seu próprio movimento e vida.  Estamos na superfície, na casquinha mais fina.  Os movimentos das placas tectônicas não tem a ver com sentimentos humanos, com divindades, vinganças ou castigos.  O que podemos fazer é cuidar da pequena camada produtiva, da água, do solo e do ar que respiramos.  E isso já é uma tarefa e tanto.
 Aprendemos com o povo japonês que a solidariedade leva à ordem, que a paciência leva à tranquilidade e que o sofrimento compartilhado leva à reconstrução.
 Esse exemplo de solidariedade, de bravura, dignidade, de humildade, de respeito aos vivos e aos mortos ficará impresso em todos que acompanharam os eventos que se seguiram a 11 de março.
 Minhas preces, meus respeitos, minha ternura e minha imensa tristeza em testemunhar tanto sofrimento e tanta dor de um povo que aprendi a amar e respeitar. 
 Havia pessoas suas conhecidas na tragédia?, me perguntaram. E só posso dizer : todas.  Todas eram e são pessoas de meu conhecimento.  Com elas aprendi a orar, a ter fé, paciência, persistência.  Aprendi a respeitar meus ancestrais e a linhagem de Budas.
 Mãos em prece (gassho)
Monja Coen

 

terça-feira, 22 de março de 2011

Light Conquers Darkness. 1933
  Tempera on canvas. 64.5 x 74.5 cm. Allahabad Museum, India
 Source: Nicholas Roerich Museum 


SENTIR

O amor que brota em cada coração é como um botão que floresce na alma coletiva.
Percebo em cada sorriso que ali encontro , os mesmos dos meus filhos,  dos meus amigos, de um estranho que encontro passeando pelas ruas, em cada olhar a essência que pede para ser reconhecida.
Agradeço a perfeição divina, que bate em minha porta com aqueles abraços sinceros de puro amor.
SINTO que posso sentir, esperimento a vontade na ausência de pensamentos - um viver intenso que é mágico.
A experiência se configura como o mais alto nível desta convivência.
Amor brilha como pepita de luz naqueles olhinhos mils, confiantes e seguros. 
A curiosidade de aprender e viver intensamente cada momento é anos luz a frente da cátedra e da escrita.
O convívio humano e social para muitos tornou-se uma insanidade separada e fragmentada do outro.
SENTIR realmente o outro (em qualquer reino), sem pensamentos, julgamentos ou condicionamentos. Pureza no olhar. Leveza no coração.
Banhar-se na inocência das águas cristalinas da consciência presente em cada gesto. VIVER.
Desembaraçar-se das construções complicadas da mente que insiste em ficar individual, separada e diferenciada.
Sair de si mesmo, como personalidade separada e mergulhar dentro da sua própria alma, revelada em cada momento desta existência, experiência, sonho, realidade, fraternidade e comunhão.
A indiferença não tem mais lugar num planeta que mostra uma urgência de atenção e amor.
Não virar as costas para si mesmo. Amar-se e cuidar-se. Amando-se e cuidando-se. Amando e sendo cuidado.
Cuidar de uma plantinha,  uma criança,  um animal - sair de si mesmo -, ir para dentro de si mesmo consciente, presente, sem fugas ou artifícios criados pelo medo da separação. 
OLHAR.
Amor envolve o risco de VIVER e VER
o outro que está em você.
Cristina, 22 de março de 2011.